Des- conexo

Posted by Dionísio...

Conheci uma menina
Como um enigma
Que não se decifra
Pois o que só se olha
Esquece de buscar resposta
Não merece sofrer de lógica
A vida nos pôs na passada
Que dá na mira da transfiguração
Fomos juntos ao sorriso único
E juntos fomos o socorro de muitos
E, no que importa, parceiros se
Para nunca desde sempre foi
Não faremos amor ou guerra fria
Faremos a vida como se acontece
Valer mais a pena o que valha acontece
só sabia que era possível saber
e sabia que me ria de não sei o quê
de pensar que esse acaso vertical
podia me abraçar um dia na horizontal
E como isso é silêncio preciso do impreciso
em tudo que jaz em meu corpo metafísico
Que faz e em tudo que despreza de mãos dadas
Perfeito e posto de lado em si
Sim: perfeito e de lado em costas
Sim: como se explica tudo com o não
Sim: sei que um idiota qualquer
o faria, mas disso basto eu entregue
Saber sim que me amarro, sorrio,
Sorrio: um sorriso amarelo e confuso
Me alegro em desespero fingido
Isso é coisa que eu gosto e desminto
Que aconteça e assim se faça como ação
Sei lá. Talvez o meu único modo
De conservar perfeita uma coisa viva
Seja tirá-la a vida e fazê-la saudade
prazer: de virar a mesa em escândalo
prazer: Porque ela me afronta sem mais
prazer: Óh, a insanidade de talhar
As melhores artes des-completando-as e
quebrando-as para viver toda a amplitude
Que há das alturas até o nada que a contém
(um expectador do meu próprio teatro vazio)
Consigo ver as coisas assim em preto e branco
Em crua dor, mas livres de maldade encarnada
Nunca me disseram que isso é certo, por certo
Mas não faço questão de ser quadrado em paralelo
Não a amei como ensinam os livros em des-nexo
Mas assim, como se ama a liberdade linear
Eu estrago as coisas, é verdade, bem sei
Sim, eu carrego no peito esta culpa desnuda
Mas com um coração frio como em melódicos
Dias de verão intenso num marseco vivo
Se não houvesse espelhos para conter
o tempo ainda teria dez anos e a falta
não mais haveria daquilo que não sei
E nunca soube bem donde vem o acaso
Apostaria tudo no brincar e morreria
Sem saber o que matava a morte
que mata sem saber que existi a morte