II

Posted by Dionísio...

Nunca chega a hora

Mudo, nada muda

Volto, nada muda

Avanço, nada muda

Desisto, e me empurram

(mas não é preciso escolher o fim

podemos optar pelo medo cansado

baixar a cabeça, suspirar, esperar:

– acorrentados ou caminhando –

no fim, não temos escolha

sonhamos no mesmo lugar...)

Seja bem-vindo

(aqui é o começo)

Abrace sua quimera!

Boa viagem!

(aqui é a chegada)

Hora nenhuma.

Os Condenados

Posted by Dionísio...

O vazio de quem passa é assustador.
É aquele vazio que devora por dentro e mete pena.
Mas uma pena que mete medo.
Um peso incalculável da escuridão da noite fria que gela o sangue e ouve sem guardar as vazias mentes dos que passam, de chaminés na boca e oceanos de loucura nas mãos, dentro de caixas de vidro.

Não têm leme, vagueiam.
Não têm vida, existem.
Não pensam, devoram.

Devoram e regurgitam tudo o que lhes foi dado a comer pelos funis do mundo.
Mas é o silêncio da noite que assiste ao seu próprio quebrar pelos que lá passam, sob o coro das estrelas que cantam melancolias sobre as suas vidas de cristal.
É o poste de luz que assiste ao seu próprio inalterar pelos que passam por ele, sob a sua falsa luz.

Quem seria assim?
Quem poderia ser assim?
Quem poderia dedicar-se tão fortemente ao vazio a ponto de conseguir alargá-lo?
Será que se expande mesmo?
Será que cresce?
Ou será que apenas se estende?
Estende-se?

Como um silêncio que se instala depois do silêncio anterior, apenas pesando mais no ar porque a nossa consciência terá descido mais um pouco para lhe dar espaço, como ao ar numa garrafa bebida?
Sentimos o tremer de algo que não existe?
O temer de algo que não se vê?
Não?
Então para quê as vozes, se não dizem nada?
Porque cantam o silêncio da noite, a infinita piedade e repulsa por quem não tem leme ou vida, porquê?
Porque é tão imponente um silêncio que deixa de ser silêncio para ser cantado?
Porque consegue ser o contrário do que é, e isso assusta...
Beleza, melancolia de gelar o sangue.