Digo aos meus pais
Que sei me cuidar
Digo a conhecidos
Que o governo é que não cuida de nada
Digo ao sertão nordestino
Que a culpa é da seca
Digo à família Marinho
Que me orgulho da tv brasileira
De tanto que eu digo,
É capaz que meus pais acabem acreditando em mim
De tanto que já disseram -dizem e nada fazem-
O país já até se conformou com um governo assim.
De tanto que a tv Marinho nos enrola a cabeça
Eu e os nordestinos,
Nem nos damos conta sobre a verdadeira Indústria da seca.
Vou,
me divirto.
Vejo,
reconheço,
sigo.
Encontro pedaços.
Coleciono
passos e vidas
enquanto dialogo mentalmente
com muitos "eus".
Faço desenhos mentais.
Escuto vozes.
E a cidade emudece,
enquanto passeio.
Sou só pensamento...
Até que,
tropeço.
Pedra no meio do caminho,
calçada torta,
o lixo que alguém deixou.
Me resta o riso
de imaginar
que melhor teria sido
tropeçar numa lembrança...
Meus caros senhores
e senhoras do mundo
entender-me pudesem!
não acredito em deus
porque me diz respeito não crêr
não deixo de pensar em deus por ele
mas por mim
se o problema fosse deus
beijava-lhe os pés
se o diabo, neste cospia
mas vejam que cena
que estupidez existir
pergunto: para que existir?
e me respondem: para duas coisas,
adorar a deus e renegar o diabo.
repito: que estupidez existir.
agora precisam de mim
para escolher entre os dois
nem deus nem o mundo
e derrepente me dão
o voto último
que culpa tenho eu
se o outro não gosta do do um?
entendão-se eles que são eternos.
antes, enterder-me pudessem!
se o problema fosse deus
cederia eu: existe, ele.
ele sim , que é deus, não eu.
eu não sou deus: eu não existo.
não existo!
e antes disso nasci,
percebem agora o tempo que não tenho?
para quem tem eternidade
faz sentido perder tempo
a beijar um, cuspir noutro.
não existo!
eu não tenho eternidade.
aí vem um "ele" e diz que eu tenho.
ora! não existo.
não tenho, entendo de mim mais que um "ele".
e por não ter a eternidade
quero o direito as que realmente tenho.
se não existo, logo é nada
quero direito ao nada.
tenho direito ao tempo entre
meu nascimento e minha morte
entretempo este que subestimam
diante do que chamam eterno.
querem viver para sempre?
têm todo o direito!
e todo tempo tem também
para achar um sentido
caso um dia percebam
a estupidez de existir
a beijar um e cuspir noutro.
mas se nunca atinarem com isso
que se deliciem com o eterno
que façam festa com seus céus e infernos.
mas que não sejam em detrimento
do meu único entretempo,
a que chamo vida, imteira.
a que chamam pedaço
de uma coisa maior.
eu que, talvez sério demais,
chamo a vida de vida
e não pedaço da mesma.
mas talvez não me entendam
porque, apesar de eternos, não tem tempo,
ou não querem, tempo.
porém se trata aqui de mim
não da existência de deus, que desconheço.
quem quiser viver pra sempre, viva
eu quero é nada mais.
não me botem alma empalhada.
é errado o homem dizer
mesmo em horas da mais completa serenidade
fundo no vazio do tempo,
preso antes a falsa moralidade servil.
que se libertou.
é liberto, e não regridirá mais...